Foto: Carlos Godoy
Com a conquista da legislação que garante direitos e proteção às pessoas com TEA (Transtorno de Espectro Autista) ,o desafio agora é implementar e integrar as políticas públicas de apoio às mães cuidadoras e aos próprios autistas quando completam a maior idade ou ao terminarem o ensino médio tem dificuldades para se inserirem na sociedade .
A avaliação é do deputado Gerson Claro , presidente da Assembleia Legislativa. O parlamentar tem destinado recursos de emendas parlamentares para as instituições que atendem pessoas com necessidades especiais. Também atua
na interlocução das demandas junto ao Governo do Estado de entidades como a Juliano Varela , APAE e Associação dos Pais e Amigos do Autista . O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, comemorado neste domingo ,2 de abril, é uma oportunidade para avaliar e ampliar as políticas públicas voltadas não só para quem tem TEA,mas também quem cuida deles, basicamente as mães “, destaca Gerson .
“É preciso ampliar a transversalidade das estratégias de apoio que tornem possível a complementaridade das ações nas áreas da saúde , educação e assistência social . Mães , que tem filhos com graus severos de autismo, precisam muitas vezes do apoio de profissionais da saúde mental. Várias delas são abandonadas pelos maridos que desistem dos filhos “, comenta .
Para Malu Fernandes, presidente de honra da Associação Juliano Varela , quanto a transversalidade das políticas públicas é fundamental, por exemplo, para garantir às famílias o diagnóstico das crianças com casos leves de autismo que no âmbito escolar muitas vezes acabam despercebidos, sendo vistos como alunos de comportamento incontrolável ,punidos por indisciplina , que precisam passar por um psicólogo.. “É necessário que haja um sincronismo entre educação e saúde , para que se possa fazer o diagnóstico e o laudo desta criança “, comenta .
Outro desafio ,lembra Gerson Claro é ampliar as vagas nas instituições dedicadas ao atendimento de pessoas com autismo ou outras necessidades especiais . Só em duas instituições , a Juliano Varela e a AMAS, em Campo Grande , há uma fila de espera de 1.500 pessoas
Pesquisa
Segundo uma pesquisa do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos, existe um aumento na prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA): uma em cada 44 crianças aos oito anos de idade é diagnosticada com TEA. O aumento foi de 22% em relação à pesquisa anterior (elaborada em 2020), cuja proporção era de 1 para 54. Caso esses números sejam similares no Brasil, ( não há dados oficiais), seriam cerca de 4,84 milhões de pessoas com autismo no nosso país.
Esse crescimento da prevalência do TEA pode estar associado a três fatores principais. “Primeiro, pelo aumento do acesso aos serviços de diagnóstico, por maior esclarecimento da população, menos estigma e maior disponibilidade de serviços. Segundo, o diagnóstico dos casos mais leves, que antes não eram identificados. Terceiro, um crescimento real do número de casos até o momento já associado com maiores idades materna e paterna e uso de algumas substâncias durante a gestação, como por exemplo o ácido valpróico”, aponta a médica psiquiatra da infância e adolescência do Hospital Moinhos de Vento, Ana Soledade Graeff-Martins.
O que se comemora em 2 de abril
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, 2 de abril, foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007. Essa data foi escolhida com o objetivo de levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O autismo é uma condição de saúde caracterizada por desafios em habilidades sociais, comportamentos repetitivos, fala e comunicação não-verbal; entretanto, terapias adequadas a cada caso podem auxiliar essas pessoas a melhorar sua relação com o mundo.
Mito e fraude
Um estudo publicado em 1998, posteriormente reconhecido como uma fraude (levou inclusive à cassação da licença médica de seu principal autor), apresentou uma possível relação da vacina MMR (sarampo, rubéola e caxumba) com casos de autismo. “Teve efeito devastador nas taxas de vacinação, inicialmente na Inglaterra, e, até hoje, causa um temor infundado. As vacinas não causam TEA, e já existem inúmeros estudos que reafirmam isso.”, alerta a médica.
Já as terapias não comprovadas podem limitar o tempo para que crianças com TEA recebam um tratamento eficaz para. As intervenções adequadas devem ser iniciadas preferencialmente antes dos cinco anos de idade. “Após este momento, a neuroplasticidade (capacidade do cérebro se modificar) diminui bastante e as terapias tornam-se menos eficazes. As terapias não validadas cientificamente podem trazer pouco ou nenhum resultado e fazem com que um tempo muito valioso seja perdido”, enfatiza.
Diagnóstico e tratamentos adequados
No autismo, o diagnóstico é realizado a partir da avaliação clínica. É baseado em relatos dos pais ou cuidadores e na observação da criança com o transtorno. Segundo a psiquiatra, alguns instrumentos (entrevistas) podem auxiliar nessa apuração, mas nenhum exame é necessário para definir o diagnóstico
Em relação aos tratamentos adequados para o autismo, os mais indicados são aqueles baseados em análise do comportamento aplicada (ABA). “Preferencialmente, com protocolo estruturado e avaliações frequentes com relação à evolução da criança”, indica. “Quanto mais os pais e cuidadores estiverem familiarizados com o funcionamento das terapias para que possam reproduzi-lo no dia-a-dia da criança, maior será o benefício para o paciente e sua família”, reforça.