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Análise: Com posições controversas sobre a guerra, Brasil chama atenção internacional

G-7 emitiu nesta semana um comunicado advertindo para “graves custos” para os países que ajudarem a Rússia a driblar as sanções e a manter seu esforço de guerra

Lula participa de cerimônia no Palácio do Planalto20/03/2023REUTERS/Adriano Machado

Se o objetivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era chamar a atenção, finalmente ele conseguiu. Funcionários dos governos dos Estados Unidos e da Europa rebateram suas acusações de que a Ucrânia e seus aliados são corresponsáveis pela guerra.

E o G-7 emitiu um comunicado advertindo para “graves custos” para os países que ajudarem a Rússia a driblar as sanções e a manter seu esforço de guerra.

Ao longo dos últimos meses, um dos temas dos quais o presidente brasileiro mais falou, muitas vezes fora de contexto e sem ser provocado, foi seu desejo de mediar a guerra na Ucrânia. Foi ignorado pela imprensa mundial, já que o mundo não vê o Brasil como um ator relevante nesse tipo de tema –e preferiria seguir ouvindo o novo governo em Brasília sobre a Amazônia.

Em Pequim, na China, e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, e ao receber o chanceler russo Sergey Lavrov em Brasília, Lula abandonou a suposta neutralidade do Brasil: acusou os aliados de fomentar a guerra ao enviar armas para a Ucrânia, e os próprios ucranianos de também terem iniciado a guerra, ao lado da Rússia.

O embaixador da União Europeia (UE) em Brasília, Ignacio Ibáñez, negou que a Europa e os EUA tenham interesse na guerra. “Temos um país agressor e um país agredido”, disse o diplomata, em entrevista exclusiva à CNN nesta terça-feira (18).

“A Carta das Nações Unidas é muito clara: temos que estar do lado do país agredido, ajudar a Ucrânia a se defender. Como toda guerra, tem uma solução fácil: se o agressor, que é a Rússia, se retirar do território invadido, a paz chegará rapidamente”.

“A posição europeia é a mesma dos Estados Unidos”, continuou Ibáñez. “Claro que estamos engajados na paz e queremos a paz. É a grande obsessão da UE. Estamos sofrendo com a guerra dentro do nosso próprio continente. Estamos buscando muitas soluções, mas para encontrar as soluções você tem que ir à origem do problema, que é claramente a agressão da Rússia sobre a Ucrânia, uma agressão que não tem justificativa.”

Segundo o diplomata espanhol, é preciso “remontar na história ao tempo das agressões das potências coloniais, e no caso da Rússia, não só a União Soviética, mas o Império Russo, essa vocação de ocupar mais territórios, nesse caso o ucraniano”.

Sobre quais seriam os custos mencionados pelo G-7 aos países que ajudam a Rússia, Ibáñez preferiu não adotar um tom de ameaça: “A UE tem colocado desde o início que esse problema tem que ser resolvido com o apoio do conjunto da comunidade internacional. Então, sempre vamos buscar aliados, países que compreendem os desafios que essa agressão da Rússia está provocando em todos os âmbitos. Acho que o âmbito central de todo o nosso trabalho têm que ser sempre as Nações Unidas e acho que lá temos obtido muito bons resultados”.

“Sempre tivemos o Brasil dentro dessa grande parte da comunidade internacional”, elogiou o diplomata espanhol.

“O G-20, o G-7 são âmbitos que queremos usar também. Lá temos recolhido uma percepção clara do desafio que é deixar um país como a Rússia não respeitar a Carta das Nações Unidas. Isso serve para o mundo inteiro. Se olhamos para cada uma de nossas regiões, temos situações em que se você deixa que um país pelo uso da força não respeite a Carta, com certeza teremos repetições de situações como a da Europa no futuro. Por isso o G-7 quer ter uma posição de firmeza. Vamos manter essa posição de forma clara.”

“Queremos continuar a contar com o Brasil”, disse Ibáñez, lembrando que, ao receber o presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, nessa terça-feira em Brasília, Lula condenou a invasão da Ucrânia. “Essa é a mensagem que queremos ouvir do Brasil, e vamos continuar trabalhando com o Brasil, um parceiro estratégico da UE.

Compartilhamos tantas coisas, como o valor da democracia, o respeito às regras da comunidade internacional, que é a Carta das Nações Unidas, e naturalmente queremos estabelecer essa confiança entre a UE e o Brasil.”

Na segunda-feira (17), o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, almirante John Kirby, disse que o Brasil estava “papagueando” as posições da Rússia sobre a Ucrânia. porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, voltou à carga nesta terça.

“Os EUA não têm nenhuma objeção a nenhum país que tente acabar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, uma guerra que eles [os russos] começaram, uma guerra de escolha deles”, disse a porta-voz.

“Mas ficamos abalados com o tom dos comentários naquela coletiva do ministro das Relações Exteriores ontem, que não foi de neutralidade, sugerindo que os EUA e a Europa não estão interessados na paz, ou que dividimos a responsabilidade pela guerra”, continuou Jean-Pierre, confundindo-se ao se referir às declarações de Lula. “Nós acreditamos que isso é completamente errado. É claro que queremos o fim dessa guerra.”

A porta-voz continuou: “Os EUA e a Europa se engajaram para prevenir essa guerra desde meados de 2021 e os esforços têm continuado desde o início dessa guerra. Infelizmente a Rússia não tem mostrado nenhum interesse em pôr um fim a essa invasão não provocada.”

As 29 páginas do comunicado final da reunião dos ministros das Relações Exteriores do G-7 no Japão não citam o Brasil, e a América Latina é o item 11, depois da África.

Mas foi incluído um recado que poderia ser dirigido, entre outros, também ao Brasil, que aumentou em 38% suas importações de produtos russos, atingindo US$ 7,85 bilhões no ano passado.

O Brasil também recusou pedido do chanceler alemão Olaf Scholz, de repatriamento de munição dos tanques Leopard para ser enviada para a Ucrânia. Além disso, tem estreitado as relações com a Rússia, com a ida do assessor especial do presidente Celso Amorim a Moscou e a vinda do chanceler russo a Brasília.

“Reafirmamos nosso compromisso de apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário e de fornecer segurança sustentada, apoio econômico e institucional para ajudar a Ucrânia a se defender, garantir seu futuro livre e democrático e impedir futuras agressões russas”, começa o comunicado.

“Continuamos comprometidos em intensificar as sanções contra a Rússia, coordenando e aplicando-as totalmente, inclusive por meio do Mecanismo de Coordenação de Aplicação, e combatendo as tentativas da Rússia e de terceiros de evadir e minar nossas medidas de sanções”, continua o texto. “Reiteramos nosso apelo a terceiros para que cessem a assistência à guerra da Rússia ou enfrentarão custos severos. Reforçaremos nossa coordenação para prevenir e responder a terceiros que fornecem armas à Rússia e continuaremos a tomar medidas contra aqueles que apoiam materialmente a guerra da Rússia contra a Ucrânia.”

Lula terá a oportunidade de ouvir diretamente as opiniões dos governantes do G-7 sobre esse e outros temas.

O Brasil foi convidado a participar da reunião de cúpula do grupo, nos dias 19 e 20 de maio no Japão. Talvez o convite não se repita nos próximos anos, se ele continuar se alinhando à Rússia e à China, outro país que preocupa o grupo.

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