Mosquito-palha, transmissor da leishmaniose (Foto: Wikimedia Commons)
Pesquisadores da Fiocruz Mato Grosso do Sul apontam preocupação com o aumento do número de cães com leishmaniose em diversos estados, o que, segundo eles, pode indicar uma possível disseminação da doença em humanos. Para o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Mato Grosso do Sul Eduardo de Castro Ferreira, é essencial intensificar as ações de vigilância, controle vetorial e educação da população.
Em Mato Grosso do Sul, segundo a Secretaria estadual de Saúde, de 2011 a 2022 foram registrados mais de 1.613 casos de leishmaniose. Corumbá, por exemplo, apresentou uma alta incidência da doença, com uma média de 6,9 casos por 100 mil habitantes. Recentemente, uma criança de 1 ano foi diagnosticada com leishmaniose visceral no município e não resistiu – ela veio a óbito em 6 de julho.
A leishmaniose, doença transmitida por parasitas do gênero leishmania, tem se mostrado uma preocupação crescente em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. Eduardo de Castro sugere que o crescimento de casos no país está relacionado, em parte, à migração de cães infectados, que funcionam como “reservatórios” do parasita, e de acúmulo de matérias orgânicas, ambiente propício para a reprodução do mosquito-palha.
“Esses animais podem servir como fonte de infecção para os vetores, aumentando o risco de transmissão da doença para humanos. Se não forem tomadas medidas urgentes de controle e prevenção, a leishmaniose em humanos pode crescer substancialmente no nosso país”, afirma Ferreira.
O pesquisador aponta ainda outro desafio de saúde pública: apesar de diversas cidades disporem de um centro de zoonoses, geralmente eles não têm condições de dar o suporte necessário para o atendimento de todos os animais. A leishmaniose não tem cura, mas tem tratamento. Os principais sintomas da doença em cães são: unhas grandes, magreza excessiva, feridas na orelha e cotovelos. O cachorro come, mas não engorda.“É fundamental realizar o diagnóstico precoce em cães, adotar medidas de proteção individual, como uso de repelentes, telas de proteção em residências e coleiras repelentes para cães, além de investir em estratégias de conscientização sobre a doença”, destaca.
Cenários
No contexto mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam cerca de 1 milhão de casos de leishmaniose por ano. Dentre eles, aproximadamente 20 mil resultam em óbito. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, entre os anos de 2011 e 2020 foram confirmados mais de 33 mil casos de leishmaniose, com uma média de 3,3 mil por ano. A patologia está presente em todas as regiões do país, sendo a leishmaniose visceral predominante em algumas localidades.
A leishmaniose é uma doença complexa, com diferentes formas, incluindo a visceral e a cutânea. A forma visceral é a mais grave, afetando órgãos internos, como fígado, baço e medula óssea. Já a forma cutânea causa lesões na pele. Os insetos vetores, como os flebotomíneos, popularmente conhecidos como “mosquito-palha”, são responsáveis pela transmissão do parasita.
“A pesquisa e o trabalho conjunto entre instituições como a Fiocruz Mato Grosso do Sul e a Secretarias de Saúde são fundamentais para enfrentar esse problema e proteger a saúde da população. A conscientização, o controle vetorial e o diagnóstico precoce são pilares essenciais para combater a leishmaniose e evitar seu avanço em outras regiões do país”, afirma.